Foto e Texto Paulo Bi

        Participar de um projeto que quer contar a História do Brasil para crianças e adolescentes, através da brincadeira e da contação de histórias é, para mim, algo extremamente estimulante e desafiador

        É a possibilidade de realizar um trabalho coletivo, estabelecendo assim novas parcerias, conexões, trocas com profissionais que trabalham com pesquisa histórica e iconográfica, com fotografia, texto, ilustração, mídias digitais, enfim, todo um conjunto de atividades que enriquecem meu trabalho como músico e compositor que tem na música para crianças um mundo que me desperta um grande interesse e prazer e onde atuo há muitos anos. Além disso a leitura de textos, livros e artigos relacionados ao tema, me proporcionou, e continua proporcionando, conhecimento e crescimento intelectual. 

        Darcy Ribeiro, Eduardo Galeano, Lélia Gonzalez, Chico Alencar, Paulo Freire, Adorno, documentários como Ôri, de Raquel Gerber ou A Grande Floresta, de Luiz Bolognesi são algumas das referências que fazem parte do escopo do projeto. 

        O compartilhamento de ideias e todo o rico material contido no projeto, são elementos que aguçam o processo criativo. Além disso, a liberdade que tive para desenvolver os temas musicais que compõem a trilha da Caixa da História sobre a Independência do Brasil, funcionou como estímulo e desafio para utilizar materiais sonoros inusitados, pouco usuais, ao lado de instrumentos convencionais e das novas tecnologias.

        Meu ponto de partida foi Peabiru, tema musical inspirado no Caminho de Peabiru, uma rota indígena que, provavelmente, ligava o Atlântico ao Pacífico. Muito antes de Cabral “descobrir” o Brasil, ou melhor, muito antes de Cabral invadir Pindorama, os guaranis percorriam o continente, numa rota espiritual que não conhecia barreiras, impostas por limites ou fronteiras. Alguns estudiosos afirmam que esse caminho, essa rota transcontinental, teria mais de 10 mil anos! Peabiru não apenas conectou dois oceanos, mas, também, os povos que aqui viviam muito antes da chegada dos portugueses.

        Comecei a compor a trilha sonora do projeto com o tema Peabiru, que, para mim, foi um espaço aberto à experimentação. A trilha foi composta usando pedras e uma vagem como percussão, flauta de nariz e apitos, guitarra, violão e uma guitarra midi que reproduz o som do Erhu. O Erhu é um instrumento musical originário da China. Dotado de duas cordas, é tocado com um arco que, preferencialmente, deve ser feito de crina de cavalo, tal como os arcos de violinos, embora também existam arcos feitos de material sintético – é essa a descrição que encontrei na Wikipédia. Espero que ela explique bem o instrumento e que vocês possam imaginar o som que dele brota. Ou melhor, que conheçam o material sonoro produzido no âmbito do projeto. Lá vocês vão encontrar a minha música: Peabiru, Emi, Rudá, Biwá, Moitirõ, Angá, Curumim, Ukebom e Tinunkiâ.

        Sinto um enorme prazer de ter sido escolhido para integrar essa equipe que tem o instigante compromisso de apresentar aos leitores uma faceta da História do Brasil que, durante muitos anos, foi intencionalmente deturpada, adulterada, omitindo-se fatos, com o claro objetivo de manter a sociedade sob o jugo eurocêntrico, submissa e presa às ideias do colonizador, ao seu conceito de superioridade, dificultando assim o processo de construção de uma forte identidade nacional.

        Este projeto servirá para trazer à tona a “Revolução Esquecida” que aconteceu em Pernambuco, em 1817, por exemplo, ou a história de Belo Monte, de Antônio Conselheiro, ou ainda como foi a noite da Revolta dos Malês, na Bahia de 1835. 

        São muitas as histórias para contar e ouvir nessa terra de Pindorama.

       

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Claudia Hlebetz
1 ano atrás

Lindo e instigante texto, meu amigo! Sigamos juntos nessa jornada de contar e cantar as histórias do Brasil.