Desenvolver um projeto que tem como objetivo principal contar a História do Brasil para crianças e adolescentes (e para quem mais se interessar) pode parecer “mais do mesmo”, dada a quantidade de informações disponíveis sobre o assunto e o acesso ampliado à sites, livros, artigos, vídeos e blogs sobre o tema.
Aqui é mais um espaço virtual entre tantos, mas essa contabilidade não nos incomoda, pelo contrário, pois a História como campo de interesse, como conhecimento que trata da vida de homens e mulheres no decorrer do tempo dever ser entendido como algo muito significativo. Mas de que História falamos aqui?
Sem desconsiderar que a História é feita, também, de um tempo que se conta em calendário, nosso foco são as histórias de vida feitas de cotidiano: as lutas por direitos, as festas populares, o trabalho e a casa, a rua e a praça, o encontro, a deriva, o medo, o prazer, o aprendizado, o ensinamento, a opressão, o desalento, o comunitário, a partilha, o abandono; o que se destrói, o que se constrói, a falta e o excesso, o que se fala e o que se cala, a paz e a guerra, a vida e a morte; o que se guarda e o que se perde, o que violenta e o que indigna, o que se expressa, o que se oculta, o que liberta, o que se sonha.
A História não está fora de nós. A compreensão da História de um país e de um povo tem a ver com a compreensão da história que é feita desse tempo cotidiano, no contexto de espaços vividos. O cotidiano é o lugar desse acontecer histórico porque a gente só vive e experimenta a vida no presente. O passado são as memórias e lembranças, o futuro é sonho, é expectativa de transformação. O presente que é a vida mesmo: a nossa história que se relaciona à história de outros pessoas com as quais vamos construindo nossos laços de pertencimento.
Nosso presente tem profunda relação com nosso passado, decorre mesmo dos eventos e trajetórias tecidos no tempo e no espaço como elementos importantes para que possamos nos compreender e às pessoas e o mundo ao redor. Nossas histórias de vida são feitas de marcas assinaladas nos calendários, datas importantes, eventos fundamentais, mas tudo isso é superfície. O mergulho tem a ver com a memória que permanece em jeitos de ser, em modos de vida, em linguagens e pensamentos, em ensinamentos e aprendizados e em nossa capacidade de compartilhar isso tudo. O que permanece é o que faz sentido, é o que tem significado para nós e mais que isso: é o que transborda, o que vai além, o que toca quem nos rodeia e nos dá a dimensão de que somos parte de uma comunidade, com a qual partilhamos um patrimônio que é, ao mesmo tempo, social, cultural e político. Contamos nossas histórias no contexto das comunidades narrativas de que fazemos parte.
Desse modo, os fios condutores do Projeto Histórias de Pindorama são os conceitos de memória, história, identidade, ancestralidade, comunidades narrativas, territórios das infâncias – assim mesmo, no plural, pois o conceito designa a pluralidade de existências, vividas em diferentes relações espaço-temporais tal como diferentes são as pessoas e suas histórias.
Relacionamos histórias, memórias e infâncias, porque o brincar é um espaço de fronteira, uma fresta para olhar a realidade com olhos de imaginação e com olhos de interesse e pergunta, como dizemos por aqui. Brincar e contar histórias são caminhos de compreensão do mundo ao redor e ferramentas de reflexão para entendermos a complexidade do ser e do viver que se realiza em nossas histórias de vida, que juntas, conformam a história de um país, a história de um povo. Queremos contar a História do Brasil tal como faz o contador de histórias que tem na palavra o seu instrumento e na escuta o seu aprendizado.
Por isso, evocamos os griôs, os ancestrais contadores de histórias africanos. Evocamos também os velhos sábios que compartilham suas histórias e seu conhecimento nas porandubas indígenas. Evocamos as crianças que olham para o mundo por entre frestas.
Belas palavras querida parceira!
E cá estamos nós entrelaçados pela criação, abraçados ao coletivo, compartilhando, vivenciando muitas histórias.
Grande beijo
Paulo Bi